Talvez você já deva ter ouvido falar que muitas profissões deixarão de existir, enquanto outras surgirão ou, no mínimo, haverá uma repaginada em determinadas profissões que vão passar a utilizar diferentes tecnologias ou o modo operandis será de outro jeito. O fato é: as profissões estão em constante mudança – e de forma rápida. Claro que o tempo desse movimento varia de acordo com o contexto político, cultura, situação econômica e educação de cada país.
Como no Portal IH!CRIEI o foco é falar sobre a Economia Criativa e a Criatividade do indivíduo, vamos trazer as novidades e mudanças no trabalho exatamente em áreas que tem como ativo principal a criatividade.
Hoje você vai conhecer o profissional Imagineer – uma junção de imagine e engineer, com tradução livre seria algo como o “Engenheiro da Imaginação”.
Até o momento, há apenas 4 profissionais no Brasil com esse título e formação, segundo o brasileiro Itamar Olímpio. Ele foi um dos palestrantes do palco de Criatividade, na última Campus Party 2019, que aconteceu em São Paulo. Olímpio estudou um curso chamado Engenharia da Imaginação, e disse que fez um investimento de 10 mil euros na sua formação. “Somos treinados para ajudar empresas a co-criar novos produtos, novos serviços, novas experiências, usando o imaginário coletivo”, inicia a explicação.
Mas, afinal, o que faz, onde trabalha e o que é Engenheiro da Imaginação?
De uma forma bem resumida é um profissional que trabalha como um facilitador criativo, que possui uma formação com mais de 20 metodologias diferentes que tem como objetivo trazer o que há de melhor nas ideias dos colaboradores de determinada empresa ou grupo. Seja para resolver problemas, criar uma nova mentalidade de inovação entre os colaboradores ou desenvolver novos produtos e serviços. “Às vezes temos que improvisar, e “criar” algo novo quando vemos que as pessoas não estão conseguindo se engajar, entender ou se expressar para resolver aquele problema”, explica. Essa também é uma das razões pela qual a profissão envolve a criatividade: tanto por aplicar diferentes metodologias criativas quanto outras que vão sendo criadas on time. Além, é claro, do constante improviso e da aplicação de novas soluções para qualquer tipo de problema.
Todo esse conjunto de habilidades resultou em uma metodologia chamada Imagineering cujo objetivo é descobrir a convergência entre o que o consumidor quer com o que as empresas oferecem, além de entender e melhorar o relacionamento entre eles. O grande diferencial é que a espinha da metodologia é fazer uma co-criação – entre o Imagineer, os colaboradores e os próprios clientes. “A co-criação é uma metodologia que defende a criação de forma coletiva. É diferente de customização (como por exemplo você ir comprar um carro na internet e escolher a cor dele, ou montar seu sanduíche no Subway). Um exemplo de co-criação seria, por exemplo, na Campus Party 2020, vocês serem convidados para criar os conteúdos, onde vai ser o evento, a estrutura, desde o começo”, exemplifica.
Qual seria a diferença de um consultor para um engenheiro da imaginação?
O Imagineer cria a solução de dentro pra fora. Por exemplo, um consultor tradicional costuma fazer entrevistas, conversa com a equipe, faz um diagnóstico e depois traz uma solução pronta depois de um tempo – geralmente um relatório ou um diagnóstico de toda a problemática e algumas soluções.
Já o Engenheiro da Imaginação (Imagineer) ajuda junto com as pessoas da empresa a pensar em como solucionar todos os problemas, co-criando com quem trabalha lá, como se ele fosse parte da equipe da empresa, mas trazendo um olhar de fora e trabalhando juntos. “Os engenheiros da imaginação tem uma visão muito mais pragmática, menos voltada para o lado pensativo na hora de resolver uma situação e foca mais na execução”, explica. Nada de relatórios para as equipes aplicarem. A ideia é fazer a mudança em tempo real e resolver mesmo todos os problemas.
Outra forma de resolução de problemas é propor ações em que o consumidor de determinado produto ou serviço também faça parte dessa co-criação.
“A inovação funciona muito bem se você tem um método”, Itamar Olímpio
E como os Engenheiros da Imaginação trabalham na prática?
“Primeiramente, somos treinados a usar os recursos que a empresa já tem, assim como usamos o potencial e imaginário coletivo interno da organização. Tentamos de forma sustentável – sem aumentar custos – usar o que a empresa disponibiliza para que a solução seja adaptável e não custe milhões e milhões de reais”, explica Olímpio.
O Engenheiro da Imaginação também trabalha em projetos, por exemplo, de cultura de inovação – que é implementar o DNA da inovação em uma empresa tradicional ou que desconhece esse tipo de cultura empresarial na prática. “A cultura deve ser pensada desde o café da manhã, almoço e janta. Se a empresa não tem uma cultura bem estruturada, qualquer projeto que for fazer pensando em inovar, se não estiver preparada, tem grandes chances de não dar certo. E o método Imagineer ajuda essas empresas a se preparar para receber esse tipo de projeto inovador, em especial no campo da tecnologia”, conta.
Outra coisa que os Engenheiros da Imaginação fazem é estruturar novos modelos de negócios, como por exemplo, ajudar a manter a empresa funcionando bem nos próximos 10 anos, assim como enxergar novas maneiras de ganhar dinheiro no futuro, troca ou inovação de produtos – no caso daqueles que tem grandes chances de ficar obsoleto, e até na área de design organizacional, onde você muda o funcionamento que a empresa trabalha para algo mais eficiente, moderno e com os recursos e mentalidade das empresas do futuro.
“Somos treinados para causar transformações”, enfatiza Olímpio. E não importa se você é um empreendedor ou uma multinacional, os Engenheiros da Imaginação trabalham com todo tipo de negócio.
Abaixo, algumas perguntas curiosas do público sobre essa nova profissão respondidas por Itamar Olímpio durante a Campus Party 2019.
P: Como você foi parar na Holanda?
R: Fui pra fora do país, pois sempre sonhei em estudar no exterior e fazer um mestrado. Comecei a trabalhar e pesquisar bolsa de estudos na Europa, e aí eu consegui na Holanda. Encontrei por acaso o curso Imagineering lá.
P: Como o Engenheiro da Imaginação contribui em áreas que o profissional não tem experiência?
R: O segredo para trabalhar com áreas que não temos experiência é a metodologia para fazer as pessoas conversarem, poderem criar juntas dentro do grupo da empresa ou organização. Por isso, não há barreiras.
P: Qual foi seu investimento nesse curso? Quanto é uma média que um consultor Imagineer ganha?
R: Hoje custa em torno de 10 mil euros o investimento. O mínimo de pagamento por hora em torno de R$250.
P: Vocês testam várias metodologias para ver o que funciona, já que cada pessoa é diferente? Como é trabalhar com grupos diferentes?
R: As organizações e pessoas são diferentes, por isso às vezes criamos metodologias de laboratórios que achamos que vão funcionar e no meio do laboratório vemos que não está funcionando, então costumamos mudar bastante sim. Existem vários casos que temos que adaptar o que criamos para aquele laboratório.
P: Como você enxerga o trabalho do Imagineer no mercado brasileiro?
R: Está mais fácil agora, levamos dois anos pra se fazer entender aqui o que é e como um Imagineer trabalha. Trouxemos a metodologia da Holanda, mas ela não funcionou 100%, por isso nós adaptamos a metodologia deles pra cá. É um trabalho de longo prazo, os países da Europa estão mais acostumados e preocupados com a inovação, aqui ainda não chegamos nesse ponto, mas estamos no caminho.
P: Qual o nome do lugar onde fez o curso e quanto tempo demora o curso?
R: Breda University e o mestrado é de um ano. Hoje eu trabalho na ESEG -Escola de Engye Gestão, em São Paulo, dando aula de Engenharia da Inovação, no curso Engenharia de Produção.
P: Minha empresa tem uma cultura muito ruim e está tentando fazer essa criação de uma cultura nova, mas as pessoas estão muito desestimuladas. O que fazer? Você costuma voltar depois de um tempo nas empresas que você trabalhou pra ver como está andando o resultado?
R: É difícil pois estamos lidando com pessoas, mas eu daria a dica de estudar atividades e ferramentas de colaboração. Incentivar a colaboração. Sim, costumamos voltar nas empresas pra ver como está funcionando, tentando monitorar o que acontece com as organizações com um mínimo de 6 meses.
P: Existe curso similar no Brasil ou em outra área?
R: Não, só na Holanda. Nós ainda estamos muito no começo aqui no Brasil.
E aí, se interessou? Para quem quiser acompanhar o trabalho de Itamar Olímpio e saber mais informações da profissão, pode contatá-lo pelo itamar@co-viva.com ou o Whatsapp +55 11 9 58532652.
Arte da capa: Daniela Ramírez