Em 2018, várias cidades brasileiras foram tomadas por eventos mais do que bacanas na área da inovação, criatividade e empreendedorismo, no Dia Mundial da Criatividade. Foram oficinas, debates, palestras e mais um sem-número de atividades que deixaram o público antenado em tudo o que rola nesse turbilhão de novas informações. Ah, e tudo de graça!
Antes de chegarmos ao assunto propriamente dito, vamos definir algumas coisas:
Geração Z – Nascidos após 1997
Millenials, ou Geração Y – Nascidos entre 1984 e 1996
A convite do Ih!Criei eu participei de três: “Ideias dos Outros que Quase me Mataram de Inveja”com Steve Eponto, “A inédita e avançada competência 4.0 – Keychain para o Desenvolvimento da Criatividade, Inovação e Sustentabilidade“, com Gerson Zuzarte e “Geração Z e a Indústria Criativa“, com Lydia Caldana e convidados, todas na capital paulista. Aqui vão as minhas impressões sobre essa imersão de conhecimento!
O QUE APRENDI COM A “GERAÇÃO Z”
Se você tem orgulho de ser um millenial (ou seja, nasceu mais ou menos entre 1980 e 1995) admita: uma boa parte da sua geração já está casada, tem filhos e cada vez mais responsabilidades para administrar. E enquanto cada um tenta se adaptar mais rapidamente às novas tecnologias, uma nova garotada começa a determinar o rumo das coisas no ambiente digital (e fora dele também): a geração Z!
Quem trouxe essa percepção foi a mediadora do papo Lydia Caldana, futurologista e expert em jovens que definiu muito bem o recorte definidor dos novos influenciadores digitais: são todos aqueles que já nasceram com a internet e nunca experimentaram o mundo sem a existência dela. CD? Pra que se existe Spotify? DVD? Não, prefiro assistir tudo na Netflix. TV aberta? Não sei nem o que passa. E por aí vai. Com certeza se você tem filhos, sobrinhos ou adolescentes nos seus círculos sociais eles possuem exatamente com essas características. E se tem duas coisas que ficaram muito claras pra plateia nesse debate foi:
1 – Proatividade. Ao invés de se torturar ao perceber como as coisas poderiam ser, uma grande característica da geração Z é botar a mão na massa, e fazer do jeito que dá. O perfeito pode nunca existir de fato, e o mais importante no final das contas é o conteúdo: é mais legítimo fazer parte da informação do que só observar o mundo acontecer em frente aos seus olhos. Que o diga a pequena Manoela Merioti (de apenas 10 anos de idade) que, aos 6, queria muito uma boneca de presente de seus pais mas não ganhou pelo alto preço. Pra juntar dinheiro e conquistar o brinquedo, ela passou então a vender pulseiras, pinturas e outros objetos a partir de vídeos com tutoriais no YouTube. Deu tão certo que hoje o negócio é real e sustentável!
2 – Autenticidade. Acabou a era do “pasteurizado”, do “politicamente correto”. O mais importante é se comunicar com o seu público através da verdade de cada nicho. Mahlu Floriano, modelo plus size negra e dona da marca de roupas Ave Maria, reforçou o ativismo de suas postagens no Instagram. Joely Nunes, dono do canal Afrontay, reforçou o discurso e ainda comentou o grande valor que esse tipo de postura traz ao processo de criação de conteúdo como um todo, fazendo inclusive marcas tradicionais repensarem suas estratégias na rede.
Moral da história: não tenha medo de começar aquele projeto, não espere o momento “perfeito”. O negócio é mão na massa sem nunca esquecer ser você mesmo quando o assunto é criação de conteúdo.
Se quiser conferir essa palestra completa, assista aqui.
OS MEMES E A COLETIVIDADE CRIATIVA
Por mais que a produção de nichos tenda a segmentar mais a produção de conteúdo, um meme é sempre motivo de estudo. E como afinal eles surgem e tomam de assalto as redes sociais? Foi esse o tema da segunda atividade do dia, comandada pelo criador de conteúdo do Facebook, Steve Eponto.
“Ninguém faz nada sozinho. E, quando faz, se realmente faz, faria ainda melhor se tivesse colaboração”, Steve ePonto
O mais bacana do Steve é que ele já foi diretor de videoclipes publicitários no passado, e por isso mesmo já teve acesso a produções com altos orçamentos e condições de produção. Mas foram os exemplos de conteúdo direcionado ao mobile que fizeram toda a plateia ficar de boca aberta, com experiências muito bacanas de como lidar com as limitações técnicas impostas por cada meio – mais um exemplo do uso da criatividade. Rolou até o exemplo real da banda “The Academic”, que aproveitou o delay de uma transmissão ao vivo no Facebook pra criar um videoclipe em diversas camadas! Veja o vídeo clicando aqui.
A palestra só reforçou ainda mais a ideia da proatividade estimulada pela geração Z, acrescentando ainda o conceito de coletividade. Esqueça o grande gênio criador de conceitos e campanhas: é a inteligência coletiva e colaborativa que faz uma ideia bruta se transformar em um produto final de grande valor. Por isso nunca tenha medo de escutar, debater e, principalmente, absorver mais informações em cima daquela sua ideia inovadora!
A COMPETÊNCIA C.H.A.V.E.I.R.O.
E como desenvolver a inovação dentro de cada um de nós? Esse foi o tema da última atividade do dia, numa palestra incrível do mestre Gerson Zuzarte, que dedicou bons anos de sua vida acadêmica ao aprofundamento de tais conceitos a partir de vários autores internacionais, como economista Klaus Schwab e o escritor francês Guy Le Boterf, referência para empresas e organizações compreenderem o desenvolvimento das competências.
O que ficou claro com esse conteúdo (e que a gente já sente na prática dia após dia) é que toda essa realidade atual passa pela revolução industrial 4.0, um ponto de virada na história produtiva da humanidade com consequências ainda desconhecidas, mas potencialmente explosivas. Pra você ter uma ideia, na década de 1970 todas as indústrias da região norte-americana de Detroit tinham valor de mercado conjunto na casa dos 50 bilhões de dólares e empregava cerca de 1,2 milhão de funcionários. Hoje, as empresas do Vale do Silício somadas chegam a casa de 137 bilhões de dólares em valor, mas empregam pouco mais de 170 mil pessoas. A inteligência artificial, a robótica, a internet das coisas e a automação vem derrubando a necessidade de alguns profissionais, extinguindo milhares de empregos no mundo inteiro.
Mas como resistir a essa nova realidade, então? Desenvolvendo a competência C.H.A.V.E.I.R.O., um conjunto de elementos que define o indivíduo como parte essencial dessa nova realidade. Segundo essa teoria, um profissional bem-sucedido só poderia atingir a plenitude com o desenvolvimento de oito competências: conhecimento, habilidade, atitude, valores, entorno, inovação, raciocínio e objetivo.
O papo é longo e bastante teórico, mas o conceito mais importante no final das contas continuou sendo o da criatividade. Isso porque as três últimas competências (inovação, raciocínio e objetivo) só existem a partir da revolução industrial 4.0, que premia iniciativas e projetos que saem da caixa, resolvem questões individuais e transformam o meio. Em uma realidade em constante ebulição, não dá pra achar que os resultados vão aparecer do nada, brotar do solo ou cair no seu colo. Tendo um objetivo em mente e utilizando-se do raciocínio com inovação, tem-se finalmente um conceito moderno da criatividade. É ela que está por trás das melhores ideias inovadoras!
Saí do Dia Mundial da Criatividade com um misto de sensações. Rolou uma certa angústia de perceber como o futuro reserva desafios inquestionáveis para uma sociedade que dispensa cada vez mais o trabalho humano, mas ao mesmo tempo muita empolgação ao ver que é justamente aí que está o nascedouro das mais incríveis ideias transformadoras. Foi muita informação valiosa, vindo de mentes brilhantes e que só me deixaram com ainda mais vontade de criar, estabelecer relações e formatar projetos. Ter a proatividade da geração Z, a inteligência coletiva das equipes por trás dos melhores memes das redes sociais e as competências C.H.A.V.E.I.R.O. cada vez mais desenvolvidas. E pra atingir tudo isso, que é a base de grande parte das competências deste século, o grande pulo do gato é a tal da criatividade. A capacidade de buscar meios e soluções, individualmente ou em equipe, que já se falou tanto nesse portal. Então bora tirar essa ideia da cabeça e mudar o mundo à nossa volta?
Felipe Haurelhuk é cineasta e sócio da IDEOgraph, produtora audiovisual independente com foco em projetos colaborativos e multiplataforma. Já teve seus trabalhos exibidos na TV aberta, paga, streaming e em mais de 150 eventos e festivais nos cinco continentes, além de ter vencido o Kikito de Ouro em 2017 pelo curta “Cabelo Bom”. É produtor do canal “Darth Blender” no YouTube, com mais de 3 milhões de visualizações anuais, além do projeto “Meu Tio Oscar”. Já trabalhou na TV Globo e hoje atua ainda como palestrante e professor de cinema, sua grande paixão. Empreender com criatividade levando o audiovisual como ferramenta é definitivamente a sua praia!
Arte da capa: Selin Tahtakılıç