Vocês já leram aqui a respeito do Design Thinking, na matéria “Pratique a criatividade usando a empatia”, da Marina Almeida, e se não leram, corre lá pra ler que a gente vai falar desse assunto aqui também! A ordem da leitura não importa 😉
Mário Rosa, sócio e head of business development da Echos: Escola de Design Thinking compartilhou 5 ensinamentos que aprendeu ao longo da vida para melhorar a criatividade, a inovação e o impacto nos projetos e negócios que estava envolvido, pensando na ideia de criar um futuro desejável.
Futuro desejável, nas palavras dele, é aquele que nós somos os responsáveis pela criação, ou seja, uma espécie de “mundo melhor” feito por querer um mundo melhor. A ideia é sair daquele mood de ficar sentado no sofá, reclamando, assistindo o mundo passar pela janela e não fazer nada. Então, se você quer de fato um futuro diferente e melhor, anota as dicas abaixo, arregaça as mangas e vai tentar fazer alguma coisa. Ok?
1) Colocar a nossa criança interior para brincar com a criança interior do coleguinha
Lembra quando você tinha uns cinco anos e brincava de boneca, jogos, campeonatos de futebol, joelhos ralados…? Olhando pra trás, notamos que quando éramos crianças, mesmo que tímidas, nós éramos muito mais abertos ao mundo ao nosso redor, muito mais curiosos, brincalhões, criando histórias e mundos imaginativos. Lembra? Então, essa criança continua ai, dentro de você! E a melhor coisa que você pode fazer é trazê-la à tona. O que isso quer dizer?
Ser mais curioso, imaginativo, sem-vergonha-cara-de-pau, não ter medo de falar o que pensa, agir com naturalidade, como um aprendiz que nada sabe e tudo quer saber. Portanto, uma das melhores coisas durante a criação de um projeto, seja ele qual for, é colocar essa criança interior pra brincar com a criança interior do colega – e é bom que ele esteja nessa vibe também ou poderá haver muitos bloqueios e resistências das duas partes. Se você praticar isso, estará colocando em prática duas coisas muito importantes para um criativo: autoconhecimento criativo e colaboração.
Segundo Mário, é muito importante a troca e a ajuda mútua ao desenvolver um projeto – geralmente as pessoas fazem o oposto, não? Guardam pra si e tentam resolver e desenvolver tudo sozinho. A gente também começou cabeçudos assim, acho que é natural tentar fazer tudo sozinho, sem ninguém enchendo o saco pra opinar ou palpitar que nossa ideia não é boa ou o jeito que estamos fazendo não é o melhor… mas depois de um tempo, aos poucos, a gente vai entendendo que temos que abrir espaço para pessoas que desejam que nossa ideia vá adiante, possam opinar, brincar com a gente, participar, ou seja, realmente colaborar. Por que também opinião vazia sem envolvimento na ideia, só atrapalha.
O aprendizado aqui é esse: sozinho, ninguém muda o mundo – ainda que você tenha uma grande ideia. Escolha bem seus colegas de brincadeira e faça algo que valha a pena! E esse é o foco da nossa próxima dica.
2) A colaboração é o combustível que exponencia os processos criativos
É muito raro você fazer algo realmente sozinho, hoje em dia. Precisamos levar em conta o processo que nos levou a criar aquele produto, filme, música e ter a consciência de que não estivemos sozinhos naquele processo – ainda que você compre uma trilha sonora na Internet, você só teve uma trilha porque alguém criou e disponibilizou. Você só conseguiu captar imagens pra um vídeo porque alguém desenvolveu uma câmera e porque alguém te ensinou como mexia.
Nesse mundo conectado e globalizado, nem que você se enfie numa caverna com papel e caneta pra trabalhar uma ideia você estará realmente sozinho para criá-la – você vai acabar observando os outros, a natureza, a vida…. Portanto, precisamos lembrar daquela conversa com alguém que nos gerou uma ideia ou algo que vimos na rua – feito por alguém – que deu aquele insight, ou então aquele amigo que nos ajudou a enxergar um outro lado, o desconhecido que escreveu um artigo que deu uma iluminada na cabeça…! E por aí vai.
O aprendizado aqui é esse: Quando temos a consciência de que juntos podemos criar melhor, deixamos o ego de lado e passamos a ouvir melhor, ter mais empatia, se abrir mais para discutir a criação de um projeto, dar espaço para a troca com o mundo.
3) O que mais importa não é o tamanho da rede que você tem, é a qualidade da interação entre as pessoas.
Já ouviu falar que menos é mais? Pois é, temos que concordar que é verdade. De que adianta você mandar fazer quinhentos cartões da sua empresa, entregar pra quatrocentas pessoas em eventos diferentes, falar seu nome e o que você faz, e quando precisar de algo não tem ninguém ao redor pra ajudar na criação? Do que adianta também você pegar o contato de mil pessoas e falar “ah sim, vamos conversar!” e dez anos depois você nunca nem mandou um oi?
Na hora de tirar um projeto do papel, o importante mesmo é que você tenha um grupo no qual confia, com quem possa trocar ideias, com quem você realmente vai poder criar junto. E isso é uma via de mão dupla, não vale esperar a pessoa entrar em contato com você. Se você acha que fulano é importante pra o que você está desenvolvendo, corre atrás, chama primeiro! Você pode ganhar não só um parceiro com uma mente criativa única, mas quem sabe até um novo amigo.
O aprendizado aqui é esse: Não ache que as pessoas são tão pró-ativas quanto parecem, muito poucas vão de fato atrás de relações duradouras, fortes e que gerem resultados.
4) Diversidade é a chave da riqueza
Não existe criatividade e inovação sem a diversidade. Um grupo de pessoas iguais, com o mesmo repertório, a mesma bagagem, pode fazer um projeto legal, mas muito provavelmente vai ser mais do mesmo. Agora se você tem pessoas diferentes, com experiências, gostos, pensamentos, jeitos únicos de ver o mundo, você consegue criar projetos autênticos, coloridos, inovadores. Por que?
Oras bolas! Porque aí você tem a tão temida divergência de ideias, e isso vai sim gerar um debate, e esse debate é extremamente rico para a criação – embora seja bastante incômodo para muita gente, esse choque de pensamentos diferentes, voltados para criar uma coisa em comum nova, é muito bom, pois estamos agregando valores diferentes na hora de criar. E mesmo que na hora da discussão parece que o outro não te ouviu ou você não o ouviu, aquela ideia diferente vai ficar na sua mente.
O aprendizado aqui é esse: quanto mais diversidade, mais criatividade!
Sobre isso, Mário citou um livro que pode ser muito legal de referência, escrito pela Linda Hill, professora de Administração de Negócios de Harvard, chamado “Collective Genius: The Art and Practice of Leading Innovation”, em que ela aborda a criação coletiva, desmistificando aquela história de que o indivíduo que é o gênio, a grande mente criativa, e sim o coletivo.
5) É preciso criar intencionalmente novas narrativas de futuros desejáveis.
Temos uma lógica de futuro muito linear, “o que vou fazer no final de semana”, “o que eu vou fazer nas minhas férias”, “como vai ser a minha carreira”, “vou casar? ter filhos?” e “como e quando vou me aposentar”. É meio assim a linha de pensamento. Nós somos muito limitados porque somos muito reativos, ficamos só reagindo aos impactos do mundo.
O desafio é criar uma nova narrativa pra criar um novo mercado, porque as organizações só olham pro mercado interno, pro mundo interno delas. Por isso precisamos tomar as rédeas e criar uma nova narrativa para o nosso futuro – se queremos alguma mudança de fato. O que o Mário quer dizer aqui é: não precisa mudar toda a sua vida pra sair do clichê. O que precisamos é ter a noção do que queremos para o nosso futuro, e não só seguir a linha, de, por exemplo, ter que ter filhos quando chegar na idade dos 30-40 anos. Não é isso que você quer, ou talvez nesse tempo? Troque as frases para “como vou fazer a minha carreira ser do jeito que ela quer”, “que impacto positivo eu posso ter no mundo”, “como atingir os meus sonhos?” Entendeu? É ter a consciência do que você quer para o seu futuro e ir atrás dela!
Existe um termo novo sendo discutido em relação ao pensar o futuro, que é o Design Fiction, que significa o planejamento, pensamento de um futuro possível, que já é um belo passo para fora da zona de conforto. E a pergunta que queremos deixar pra você responder e continuarmos essa conversa é:
Foto da capa: Tátil (Projeto de Design em que Mário Rosa trabalhou), imagem Patricia Bernal