É hora de aprender coisas novas e compreender como se adaptar às mudanças aceleradas pela pandemia e a tecnologia
Artigo revisado e atualizado em Janeiro de 2023 // Tempo estimado de leitura 10 min
Transformação digital é um tema recorrente nas redes sociais, mídias, eventos e corporações. E, tem ganhado cada vez mais espaço no mercado criativo que, assim como os outros, não estava preparado para uma mudança tão instantânea.
Segundo dados da Raconteur, 95% dos profissionais de TI disseram que a prioridade em tecnologia aumentou muito durante a covid-19, e isso nós já sabemos. Cerca 76% expressaram certa preocupação com o impacto no longo prazo dessa transformação digital tão acelerada, já que foram implementadas muitas ações, muitas tecnologias sem haver boas estratégias ou de fato uma necessidade. Além disso, diversos modelos de negócios estão ganhando forças e crescendo em todas as áreas em que há muita tecnologia e muita criatividade.
Para quem está buscando entrar nessa onda de mudanças e novidades que estão por vir os impactos vão desde a ampliação do alcance do público, como por exemplo, o aumento da oferta de serviços e produtos até a criação de novas e diferentes experiências com os clientes ou público que está ali presente seja consumindo conteúdo, produtos, serviços, o que for.
Porém, para acelerar esse processo na prática, é preciso entender quais são as principais barreiras que os profissionais estão enfrentando para desenvolver os seus negócios on-line, por exemplo.
Neste artigo, vou apresentar alguns exemplos de pequenas, médias e grandes empresas do mercado criativo que estão a todo vapor realizando essa transformação digital ou criando novos modelos de negócios para os seus nichos.
As primeiras barreiras
Mudança de mentalidade, capacitação de áreas que não são necessariamente as áreas técnicas dos criativos e recursos financeiros são as primeiras barreiras que travam qualquer profissional ou negócio criativo a desenvolver-se no meio digital.
Diversos setores como shows, eventos, teatro, espetáculos, arte de rua, vivências, entre outras áreas que tinham seus modelos pautados exclusivamente no presencial, não estavam preparados ou com capital de giro para mudar tão rapidamente. Muitas empresas fecharam e muitos profissionais ficaram estagnados também por não conseguirem se adaptar ou por não saber por onde começar.
Como mostra outro estudo sobre os impactos da covid-19, feito pela FGV, em 2020, quase metade das empresas criativas tiveram seus projetos suspensos (sem data certa para retomada) e 42,1% tiverem projetos cancelados. Além disso, 63,4% das empresas entrevistadas não acreditam que possam funcionar em meio a restrição de circulação de pessoas.
Isso deixa claro a falta de conhecimento sobre as possibilidades de atuação no mercado digital, além da capacitação e recursos para tal. Ainda que muitos não consigam ou não saibam operar um negócio ou atividade criativa de forma não presencial, ou seja, online, o relatório apontou que outras áreas da economia criativa, como games e softwares, aumentaram suas atividades e rentabilidade devido ao uso de recursos digitais para a produção e comercialização de seus produtos e serviços.
Portanto, é preciso repensar e decidir quais são as possibilidades desse mundo digital, online, para cada setor criativo e ver o que temos de soluções já testadas, aprovadas e validadas, ou o que precisamos criar de novidade.
Faça algumas perguntas como por exemplo:
- Existe algum produto ou serviço que facilite a sua ideia ou atividade criativa para o digital?
- Quais seriam as plataformas que podem servir de modelos de negócio pra você?
- Quais são as que se pode trabalhar remotamente?
- O que precisa ser criado que ninguém fez ou o que pode ser melhorado?
- Que tipos de negócios estão em crescimento nas áreas criativas?
Lembrando que no âmbito individual, quem não puder investir no negócio ou em capacitação, por exemplo, e não quiser depender de iniciativas públicas ou privadas, terá que começar por outros caminhos, como aprender a colaborar, a se expor para novas parcerias ou mesmo se juntar a outros profissionais que têm o mesmo objetivo ou plano de negócios e já estão mais familiarizados com o digital.
“A principal questão é fazer com que o mercado criativo repense na possibilidade de usar a tecnologia digital a favor da diversidade de negócios para além do presencial, proporcionando novos caminhos e benefícios tanto para quem a consome, quanto para quem a produz.”
Patricia Bernal
O mercado da criatividade na prática
Embora muitos profissionais criativos ainda não se sintam parte dessa transformação digital, praticamente todos os setores criativos estão no mundo on-line.
Na área de multiculturas, por exemplo, quem trabalha com artesanato viu uma grande oportunidade de expandir a venda de seus produtos e se fazer existente.
Um ótimo exemplo é o e-commerce Tucum Brasil que oferta uma variedade enorme de produtos criados e produzidos por cerca 18 comunidades indígenas brasileiras.
Outros como a empresa Artsiber, focada no nicho de produtos para motociclistas e com produções feita por artesãos brasileiros e de outras partes do mundo, começou sua operação via redes sociais e depois lançou seu e-commerce com foco na expansão da marca e vendas.
Já na área de eventos se tornou quase que obrigatório qualquer festival, seja ele pra qualquer nicho, ter a versão on-line e obviamente após a pandemia tivemos a retomada da versão presencial. Durante a pandemia tivemos um movimento de fazer tudo no on-line porque era necessário.
Agora na pós-pandemia, a gente já vê que todos os festivais aderiram ao mundo on-line é quease que instrínseco ofertar a experiência presencial e entregar a experiência on-line, tanto para quem foi no evento quando pra quem não pode ir.
Além disso, muitos profissionais criativos têm ampliado suas atividades atuando também nas áreas de capacitação em gestão ou desenvolvimento de carreira.
Esse é o caso do canal do youtube Música em Rede, que lançou sua própria plataforma de música com treinamentos, cursos, aulas ao vivo, além da parte burocrática como planilhas, modelos de contratos, checklist, grupos, alerta de editais e festivais para os profissionais da área.
Seguindo nessa linha, vemos a expansão criativa no ensino via streaming, com plataformas como a espanhola Domestika, a peruana Crehana e americana MasterClass que estão revolucionando o mercado de aprendizagem profissional criativa no mundo todo, trazendo formatos e experiências que agrada — e muito! — a esse público, e um tanto diferente do EAD ofertados por faculdades e universidades tradicionais que ainda estão capengando para conseguir trazer a mesma experiência dessas empresas que nascem no digital.
Isso sem contar no mercado de freelancers em diversas áreas criativas como animação, roteiro, design que podem atuar de forma independente para o mundo todo ou através do mercado de apps, como Upwork, Fiverr, Twine, Freelancer, Workana entre outros.
No Brasil, por exemplo, ainda há um certo preconceito com esse modelo de negócio, porque ele “barateia” a criatividade. Mas, quem trabalha com isso de forma organizada pode ganhar muito bem, como você poderá ler no relato para o portal IH!CRIEI, do colombiano David Silva, que viveu no Brasil, voltou pro seu país e agora está aqui novamente, e que garante pode conseguir renda de até R$ 6.000,00 por mês, utilizando apenas os serviços via estas plataformas.
Diante disso, temos três constatações:
- As áreas criativas têm espaço no mundo digital para diferentes modelos de negócios e trabalho;
- É preciso investir em capacitação em gestão, tecnologia e estratégia, além lógico da mentalidade, para conseguir executar e criar produtos novos neste ambiente on-line;
- Incentivar governos, empresas privadas e organizações que valorizam (além do discurso de palco) o mundo da criatividade. E a investir em boas ideias, seja para grupos ou profissionais criativos que não possuem o acesso a todas essas oportunidades, seja para os que estiverem cheios de boas intenções de expandir seu talento no mundo digital.
Agora você já sabe por onde começar, certo?
Arte da capa: Scott Balmer